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Adaptações Pedagógicas na Educação Formal de Pessoas com TDAH
Por Rafaela Cimbalista.

As adaptações pedagógicas são estratégias educacionais que desenvolveram-se com maior visibilidade após  a  homologação  da  Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9.394/96), pois a partir dessa data as escolas e instituições educacionais passaram por um processo de modificação de suas estruturas, tanto físicas como curriculares.

As mudanças deram-se porque esta lei ressalta o respeito pela inclusão e garante direitos à pessoas com necessidades educacionais especiais. As lei brasileiras, na atualidade, determinam que a formação de docentes contemple conhecimentos relacionados à especificidades de alunos com tais necessidades, propõe seu atendimento especializado e determina uma política nacional de educação voltada para a inclusão.

Apesar da relevância do tema, as adaptações pedagógicas ainda são insuficientemente difundidas, provavelmente devido ao desconhecimento parcial ou total das características, no caso do TDAH, e das adaptações adequadas que podem proporcionar maior conforto tanto para o aluno, como seus colegas e professores na rotina escola. 

Certamente não teremos como esgotar esse assunto apenas neste pequeno artigo devido a complexidade do próprio, entretanto considerando-se as adaptações pedagógicas como prática educacional de professores que atuem com crianças com TDAH é importante esclarecer inicialmente que o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um conjunto de sintomas que causam sofrimento e interferência nas funções pessoais do sujeito que os apresenta.

As características principais são: alteração na atenção, impulsividade e hiperatividade física e mental. Aqui, o termo alteração na atenção se encaixa mais adequadamente para explicar as características do transtorno. Isto porque as pessoas com TDAH não apresentam necessariamente falta de atenção ou deficiência nesta, como designa o termo déficit, mas flutuações na atenção. E este, na verdade, é o sintoma que mais se sobressai no TDAH, sendo um dos determinantes para  uma desconfiança ou diagnóstico.

A impulsividade também surge como consequência de uma grande sensibilidade fazendo com que esses indivíduos em muitos momentos tenham reações exageradas, carregadas de emoção em resposta a pequenos estímulos. Por esse motivo muitas vezes agem e só refletem sobre a ação depois. São muitas vezes conhecidos por falarem aquilo que lhe vem à mente no momento da pergunta, de serem extremamente “sinceros”, contrariando muitas necessidades sociais em que se espera que se omita tanta transparência na exposição dos pensamentos. Em situações de coação ou que estejam muito fragilizados emocionalmente, este caráter distinto pode tornar-se mais intenso.

Na criança e no adulto a impulsividade pode se manifestar igualmente de outras formas, como por exemplo, a criança que anda pulando e correndo ou o adulto que não consegue nunca esperar parado a escada rolante subir e por isso vai caminhando, pois sua mente sempre caminha mais rápida do que seus próprios movimentos.

Claramente, de tudo que nos debruçamos até este momento, percebe-se que esse transtorno não se trata apenas da hiperatividade tão difundida, a qual não darei destaque pois esta escrita se centraliza nas adaptações pedagógicas e, noutro momento pode-se falar mais sobre todas as características e subtipos de TDAH.

Dessa forma, em uma situação diagnóstica, as três características relacionadas à atenção, impulsividade e  hiperatividade são igualmente consideradas, bem como o tempo de permanência destas na vida do sujeito. Lembro do mesmo modo que, o diagnóstico desse tipo de transtorno é feito em conjunto com um médico neurologista ou psiquiatra, e outros profissionais multidisciplinares. O acompanhamento terapêutico também deve ser avaliado caso a caso. 

Ser uma pessoa com TDAH é ter uma mente que não cessa, nem descansa e intercala este movimento ininterrupto com momentos de criatividade contínuos.

Essa criatividade e a  característica  natural  de  liderança são grandes trunfos escondidos por debaixo de todos os  esquecimentos, desastres e confusões causadas pelo transtorno. Dessa forma, a melhora na performance desses alunos tão especiais pode ser facilitada com algumas sugestões:

- Colocar o aluno com TDAH à frente, na 1ª fileira, para que seja mais fácil ao professor atrair sua atenção. essa localização em sala também facilita de que professor ponha sutilmente sua mão sobre o ombro do aluno quando o mesmo estiver distraído, para que ele volte ao conteúdo;

- Seria bom que sua carteira ficasse ao centro desta fileira. Próximo às janelas ou ao corredor o aluno pode se sentir atraído com qualquer movimento externo. Lembrar que a mente TDAH é fluida ajuda a pensar em situações que blindem o risco de distração.

- Com relação às aulas, quanto mais criativas melhor. Muitas vezes providenciar materiais concretos ajuda bastante na hora de trabalhar temas mais abstratos como matemática, física dentre outras disciplinas. Para os alunos de ensino médio, a opção do laboratório com experimentos realmente pode proporcionar algum atrativo. Filmes e tudo aquilo que possa fazer sua imaginação fluir para um processo criativo há de aproveitar todo o potencial deste aluno;

- Colocá-lo num posicionamento como seu ajudante. Pedir que apague o quadro, distribua folhas ou as recolha, seja responsável pelo grupo durante a execução dos trabalhos grupais pode ter múltiplas funções como adaptação pedagógica. Inicialmente porque o fará sentir-se útil, aumentará sua auto-estima, o aproximará mais dos conteúdos e lhe trará mais senso de responsabilidade, pois há de envolvê-lo. Em seguida porque permite que o aluno de vez em quando possa dar uma volta na direção ou secretaria buscando ou levando algum papel ou objeto. Esta adaptação permite que se faça “vista grossa” as vezes em que o aluno se levanta e caminha pela sala, já que pessoas com TDAH têm dificuldade em manter-se sentados por muito tempo;

- Propor trabalhos grupais. Não seria porque parecem mais fáceis, mas porque o trabalho cooperativo empolga e motiva os TDAHs. Estes alunos têm um traço natural de liderança que pode e deve ser aproveitado principalmente nestas situações;

- Eventualmente programar-se para dar aulas de reforços e revisões. Pessoas com TDAH comumente aparentam não ter boa memória. Isso ocorre porque estão aparentemente prestando a atenção e descobrem depois do ocorrido que sua atenção naquele momento era frágil. Mas a descoberta só é feita quando percebem que não se lembram de conteúdos ou das aulas;

- Criar um caderno de comunicação entre a família e a escola. Pode ser também uma agenda. Caberá à família a obrigação de ler o caderno todos os dias. No caderno o professor tomará nota das datas dos trabalhos e avaliações, páginas trabalhadas e deveres de casa;

- É de grande ajuda se puder ser providenciado um mural em que os trabalhos e provas sejam anotados, para que sempre haja uma lembrança à vista do aluno;

- Todos os dias, ao iniciar sua rotina, o professor pode anotar num cantinho do quadro a rotina do dia, por exemplo: “hoje, dia tal teremos: correção exercícios de casa e depois apresentação do trabalho em grupo do tema tal."

Estas são algumas adaptações já experimentadas em sala e inclusive citadas por alguns estudiosos que são referências na área. Todavia, somente a experiência vai demonstrar aquelas adaptações que mais provocam resultados favoráveis nas classes e na própria mudança no comprometimento do aluno com os conteúdos. Como todo aprendizado, para o professor e a equipe pedagógica implica também na vivência de erros e acertos até que sejam observados os resultados.

Para saber mais sobre o TDAH e adaptações, recomendo a leitura de publicações de Ana Beatriz B. Silva, Russell A. Barkley, entre outros.

Texto adaptado de meu artigo científico Adaptações Curriculares Como Práticas Educacionais de Professores que Atuam com Crianças com TDAH, publicado no "VII Seminário Internacional As Redes Educativas e as Tecnologias: Transformações e Subversões na Atualidade". Rio de Janeiro: UERJ, 2013.

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